Anotações sobre recusa, resistências e culturas afirmativas
1. Quando penso nas estratégias de recusa, tomo por caminho a Poesia da Recusa, de Augusto de Cam
Do músico John Cage ao criador teatral e filmaker Carmelo Bene: trilhas de recusa.
2. As micropolíticas tiveram expressão e força em Foucault. Ele distingue, por exemplo, entre os vários regimes de técnicas, dois ti
“as técnicas de poder, que determinam a conduta dos indivíduos, submetendo-os a certos fins ou à dominação, objetivando o sujeito; as técnicas de si, que permitem aos indivíduos efetuarem, sozinhos ou com a ajuda de outros, um certo número de operações sobre seus cor
3. Foucault coloca também uma nova forma de luta política: não somente aquelas que se estabelecem no âmbito das classes, dos gru
Foucault explicita, num texto que discute o sujeito e o poder, as lutas micropolíticas: a) são lutas transversais: não se confinam a países, governos específicos etc. b) não são lutas que visam os efeitos do poder, mas antes criticam o poder não controlado sobre os indivíduos, sobre os cor
4. Porque a política antecede o ser, diz Deleuze. Já estamos, sempre, numa situação política. Porém, a macropolítica não é a detentora do plano de exercício politico. Não cobre os territórios, mas realiza capturas - ou melhor, apropria-se das forças da vida. E não são a fonte de inspiração micropolítica. Porém, não vamos pensar que as políticas que funcionam num plano de representação são más. Estão aí, no plano da vida, exercendo poder. A questão do fortalecimento da participação na esfera macropolítica pode ser uma contribuição micropolítica? Penso que isso é
5. Por outras linhas, proliferam as culturas afirmativas. Não são se opõem às recusas. Culturas afirmativas, aqui, estão no lugar de culturas de resistência. As micro-políticas procuram sair da lamúria e, no mínimo, diriam com o sambista Ismael Silva: tristezas não pagam dividas. Não estamos falando de identidades: A=A que não B. Estamos falando da substituição, nas culturas afirmativas, do “é” pelo “e”. A série projeta-se a caminho, não pára num retrato. As culturas afirmativas não coincidem consigo mesmas, mas com suas transições (Brian Massumi). As micropolíticas tem a ver com o incremento da potência de agir (Spinosa).
6. Quanto às culturas afirmativas, tomo de Antônio Negri uma bela definição, a partir de Spinosa:
"Gostaria de dizer enfim que a redescoberta de Spinoza que devemos a Deleuze e a Matheron nos permite viver “este” mundo, isto é precisamente o mundo do “fim das ideologias” e do “fim da história”, como um mundo a reconstruir. Ela nos mostra que a consistência ontológica dos indivíduos e da multidão permite olhar para frente cada vez que a vida singular, como ato de resistência e de criação, emerge. E se os filósofos não gostam da palavra “amor”, e se os pós-modernos declinam dele seguindo a idéia de um desejo fenecido,nós, que relemos a Ética, nós, o partido dos spinozistas, nós ousamos sem falso pudor falar de amor como amais forte paixão, uma paixão que cria a existência comum e destrói o mundo do poder."
7. Penso, além disso, nos movimentos e militâncias estético-culturais, de como configuram res
O fascismo e o stalinismo foram obscuridades que o capital lançou mão em determinado momento. Um novo momento do capital no pós-guerra e a rebelião jovem toma conta das democracias do planeta. Refluxo do capital e cooptação dos melhores sonhos nas décadas seguintes. Estabilizam-se as vanguardas, ou elas insuflam mudanças no modo como o capital se faz acumular, principalmente através da arte e da cultura. Novos movimentos surgem nas lutas anti-globalização, justamente quando acreditava-se que nada novo ocorreria em termos de rebelião jovem.
8. Em outras palavras: a pressão da produtividade econômica sobre as novas gerações. Na década de 60, pela via alternativa e na abertura de
As lutas geracionais recolocam em pauta as questões dos valores simbólicos frente aos valores econômicos. As modalidades pré-fabricadas do desejo procuram definir nossa entrada no mundo em termos de sexualidade, saber de corpo, estética, ética. As estratégias de recusa, de resistência e das vias alternativas procuram responder a esta questão.
9. Não que seja um problema “jovem”. Aliás, alguns fazem crer que se trata disso. È um problema da vida e da renovação de suas forças. As res
Referências:
Foucault, M. El sujeito y el poder. Traducción de Santiago Carassale y Angélica Vitale.
__________. As técnicas de si. In: Université du Vermont, outubro, 1982; trad. F. Durant-Bogaert).Hutton (P.H.), Gutman (H.) e Martin (L.H.), ed. Technologies of the Self. A Seminar with Michel Foucault. Anherst: The
Negri, Antonio. Uma filosofia da afirmação. In Spinosa e a Filosofia: Leitores de Spinosa.
Cam
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Luiz Carlos