21.10.07

Zikzira Teatro Físico: novo espetáculo e novas pesquisas

A Cia Zikzira de Teatro Físico está com estréia prevista para Novembro, em Belo Horizonte. André Semenza e Fernanda Lippi, fundadores da Cia, estão há meses imersos no processo de criação do novo espetáculo. Os dois artistas estão, ao mesmo tempo, ministrando oficinas no Projeto Laboratório: Textualidades Cênicas Contemporâneas - da linha de ação Arte Expandida - experimentação nos teatros da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte. A seguir, uma entrevista com Fernanda Lippi sobre os novos rumos da pesquisa da Cia.

Percebe-se, nas oficinas realizadas no Projeto Laboratório, que você está buscando, cada vez mais, uma conexão com a voz. Como você vê isso na trajetória da Cia?

O processo que a Cia vem se deparando nos últimos anos tende a nos fazer ficar, a cada dia mais atentos às vibrações que percorrem um corpo, atravessando os órgãos e servindo de instrumento para este mesmo corpo; compondo através de uma linguagem própria uma moldura para aprofundar a proposta estabelecida pelo próprio artista e aquele que o dirige. Acreditamos que ao investigarmos em corpos distintos vários estágios desta vibração, uma possibilidade de pesquisa irá se manifestar fora do corpo. Os ruídos oriundos deste corpo seriam a primeira manifestação, levando-no a outras manifestações sonoras, permeando melodias, até o aparecimento da voz.

Na busca de um corpo que se move, de um corpo que pulsa, segundo suas próprias palavras no Laboratório, como você vê o campo de desenvolvimento das técnicas de um teatro físico? Há um saber de corpo específico?

Acredito que todos aqueles que se propõem à uma escuta através do corpo, que direcionando este, à uma busca interior, através do aparecimento de uma verdadeira pulsão, este corpo terá uma necessidade de aprofundamento e busca de uma técnica que possa ser utilizada como ferramenta, a fim de alcançar um estado onde o corpo domina a mente e a sensação de liberdade possa emergir.

Mas para isso deve sim existir uma direção clara que possa propiciar o acontecimento do corpo, liberando o saber do corpo especifico e podendo assim repetir a vivência. Hoje, no Brasil, o teatro físico não possui uma única voz, a dança a mímica e o próprio teatro expressam que tudo que se move é físico e ainda mais as interdisciplinaridades, quando estas completam para criar um corpo manifestando-se através da fisicalidade.

Que fisicalidade e essa? Qual é o ponto de partida? Esse ponto de partida foi criado por uma necessidade estética? Muitas vezes, no Brasil, devido a nossa realidade, o ponto de partida de um corpo vem da necessidade externa de viabilização de uma obra. Isso muda tudo... No campo de desenvolvimento do teatro físico existem varias vertentes, e em um país como o nosso, as manifestações ocorrem de acordo com a realidade de cada região; infelizmente a formação dos nossos profissionais ainda é precária e quase escrava do sistema, mas acredito que qualquer ser humano que se propõe à uma escuta tão especial tem a possibilidade de descoberta, e o desconhecido gera muitas coisas.

E o novo espetáculo?.

Convido à todos aqueles que se interessam pelas várias facetas do ser humano e como ele pode se manifestar, carregando séculos e séculos de repetidos dramas. Sob pressão o verdadeiro caráter é revelado. Este projeto deu fruto á um longa-metragem e á um espetáculo ao vivo.

Imagem: As Cinzas de Deus - filme da Cia Zikizira Teatro Físico -

17.10.07

Do Teatro Pós-Dramático e das Dramaturgias Híbridas




A revista da Editora da UnB, Humanidades, publicou uma edição especial sobre o Teatro Pós-Dramático. A publicação vem em boa hora, principalmente porque o livro de Hans-Thies Lehmann, que difundiu o termo, não está, ainda, traduzido para o português. Temos, portanto, mais elementos à mão sobre esse universo das artes cênicas enquanto não sai a tradução: o teatro pós-dramático. Segundo Sílvia Fernandes, este pode ser definido como um "teatro de intensidades, forças e pulsões de presença, que não está sujeito à lógica da representação".

Sobre o teatro pós-dramático, o número especial da revista traz os seguintes artigos:

- Subversão no palco - Sílvia Fernandes
- Ruptura conceitual e a influência no fazer teatral - Rosângela Patriota
- A pedra de toque - Luiz Fernando RamosO ator e a gusca - Márcio Aurélio Pires de Almeida
- Do texto ao contexto - Matteo BonfittoA linguagem do corpo - Soraia Maria Silva
- No palco, a luz - Cibele ForjazLaços Sonoros - Lívio Tragtenberg
- La fúria dels Baus e a violação do espaço cênico - Fernando Pinheiro Villar
- Sinais de teatro-escola - Maria Lúcia de Souza Barros Pupo

À nossa disposição, portanto, uma série de análises que podem contribuir para a compreensão desse universo de criação que é o pós-dramático;

Em tempo: tive acesso à revista pela mão de Fernando Villar, que me deu esse belo presente, quando, no dia 16/10/07, realizou a conferência Dramaturgias Híbridas no Projeto Laboratório: Textualidades cênicas contemporâneas, projeto da linha de ação Arte Expandida - experimentação nos Teatros Franciscon Nunes e Marília, realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura/Diretoria de Teatros.

Villar apresentou um painel do universo de criação cênica que perpassa os campos do pós-dramático e da peformance art, que ele intitula justamente de Dramaturgias Híbridas. Ele remontou ao que chama, também, de "história da ação testemunhada pelo público", para caracterizar o sentido de performance num sentido amplo, não específico. Essa história teve o recorte conceitual desse campo que, para ele, sempre foi excluído das histórias oficiais do teatro - e que perpassa a performance art e pós-dramático.

Num primeiro lance, ele remonta às entradas das análise sobre esse campo de criação cênica, começando pelo livro de Roselle Goldberg, primeiro livro de Performance Art, lançado nos EUA em 1979, passando por Out of Actions: between performance and the object, de Paul Shimmell, em 1999, pelas análises de Josette Feral, que se refere à "morte de uma função anárquica" (fim das vanguardas históricas) e "surgimento de um novo gênero" (com as novas vanguardas), passando por contextos históricos e artísticos, desde Pollock, Cage, o grupo japonês Gutai, por Hiroschima e Nagazaki, entre outros acontecimentos. Depois, passou a apresentação dos grupos e artistas que configuram o universo configurado na junção da análise de Lehmann do teatro pós-dramático e das manifestações da performance art.

Por fim, Villar lembra que as Dramaturgias Híbridas são questões de uma live art: "arte ao vivo, arte da manipulação do eixo tempo-espaço, arte performática, arte da ação testemunhada, assistida, compartilhada..."



5.10.07

Improvisões - improvisação intermídia




O projeto Improvisões - improvisação intermídia no Teatro Marília - está no ar, com edital e tudo mais, sendo que as inscrições vão até o dia 30.11.07.

Improvisões é um projeto da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura/Diretoria de Teatros, com foco na improvisação intermídia e no pensamento criativo. O projeto faz parte da ação Arte Expandida - experimentação nos Teatros Municipais. Em que o projeto inova? Improvisões permite que artistas de meios diversos e heterogêneos possam dialogar, ao vivo, diante do público, sem hierarquia.


São 04 apresentações de improvisação intermídia, realizadas no Teatro Marília. Para cada apresentação são selecionados, mediante edital, 03 artistas ou núcleos de criação (quando se trata de mais de um artista) caracterizados, cada um, como mídia do "corpo", da "imagem" e do "som", que irão, a partir disso, compor um Coletivo de Improvisação. Ao todo, participam das quatro apresentações 12 artistas ou núcleos.


Juntamente com as improvisações, são apresentadas performances conceituais, intituladas de Pensamento Disparado, realizadas por pensadores que se dedicam às questões de estética contemporânea.


O artista Marcelo Kraiser, um dos idealiazadores de Improvisões, escreve sobre o projeto:


"Improvisões: olhares e ações que surgem e se voltam para a improvisação inventando relações entre o corpo, a imagem e o som. O que queremos dizer com ‘invenção de relações’ ao invés de falarmos em ‘relações entre as artes’? Simplesmente que o que se improvisa são as relações entre os meios visuais, sonoros, linguagens verbais, artistas e técnicos que ocupam o espaço do teatro dentro e fora da caixa cênica devem ser compreendidas como trajetórias, linhas de ação e pensamento nas quais nada foi determinado com antecedência.

Os meios não são vistos nesse caso como aquilo que já foi catalogado como artes visuais, teatro, dança, performance, crítica e assim por diante e que sentados confortavelmente em seus territórios firmes iriam dialogar uns com os outros. Ao contrário disso, não concebemos os meios como lugares de passagem e nem como suportes, mas lugares muito instáveis, onde não fazem o menor sentido os opostos como teoria e prática, ruptura e continuísmo, antigo e contemporâneo pois neles não existem os controles das instituições do pensamento ou dos mercados das artes. O que não quer dizer um elogio do espontâneo e do vale tudo.


Esse lugar entre, como diz Gilles Deleuze, não é um local onde as coisas se relacionam uma com a outra, ‘ é o lugar onde as coisas adquirem velocidade... uma e outra, riacho sem início nem fim, que rói suas duas margens e adquire velocidade no meio’."


3.10.07

Interfaces entre a produção editorial e a produção cultural


Estarei na Semana da Produção Editorial e Talentos Editoriais, evento realizado pelo Uni-BH, discutindo a "Gestão de políticas públicas para a cultura - o desenho de projetos culturais: recorte, desenvolvimento e monitoramento - diálogos com a cidade." Farei uma exposição que terá por base, principalmente, minha experiência na direção do Centro de Cultura Belo Horizonte (1999-2004) e na Diretoria dos Teatros da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte (2005-).

A seguir, um texto da Coordenadora do Curso, Ludmilla Skrepchuk:


"O curso de Produção Editorial do Centro Universitário de Belo Horizonte- UNI-BH promoverá entre os dias 02 e 04 de outubro, no Auditório do Espaço de Convívio, do campus Diamantina, a partir das 19h, a Semana de Produção Editorial cujo tema será: "As interfaces entre a produção editorial e a produção cultural".
O evento tem o intuito de discutir a abrangência das possibilidades de atuação dos produtores editoriais no contexto das produções culturais e das manifestações artísticas, seja na grande indústria cultural ou em eventos e espetáculos alternativos ou subsidiados pelas leis de incentivo à cultura.
Na tentativa de promover a aproximação dos profissionais de produção editorial com as demandas e necessidade dos produtores artísticos e executivos, criando conexões entre o fazer do campo da editoração impressa, eletrônica e digital com a produção e divulgação de espetáculos e produções culturais nas mais diversas áreas: teatro, música, gastronomia, dança, enfim, o encontro da arte com as técnicas, tecnologias e teorias que perpassam o campo de atuação profissional dos produtores editoriais, numa perspectiva de complementariedade entre essas áreas.
Partimos do pressuposto de que nossa ferramenta fundamental é a formatação de produtos midiáticos e que todo e qualquer espetáculo prescinde da mídia para alcançar seu público. Sendo assim, o lugar da arte entrecruza-se com a editoração midiática."