1.8.07

De Fast para Slow Food




Quando entro num fast food e a pessoa me diz que o pedido ficará pronto em 2 minutos, eu entro em pânico. Primeiro, porque aqueles rapazes e moças ficam correndo para um lado e para o outro numa dança infernal, sem sentido. Depois, porque uma comida desse tipo deve ser muito esquisita. Passei, então, a evitar esses lugares, não só por questão da comida mesma, mas por uma recusa ideológica do tipo de trabalho, no mínimo estressante, a que as pessoas estão sendo submetidas. Uma micro-política deveria, também, dar conta de pensar essa dança esquisita dos fastfoods e as conexões que gera no nosso eco-sistema interno e externo. E, além disso, pensar a estética de um mundo cujos alimentos são produzidos em escala industrial.

Por tudo isso, recebi com alegria, através de mensagem de Marcelo Terça-Nada, a notícia do web-design criado por ele e Cia. para um site superbacana: o Slow Food do Brasil. Há toda uma gama de informações e conexões sobre uma realidade possível, de pequenos produtores, de consumo curtido (expressão que vem de curtir o couro, de sofrer a ação do tempo). Vale a pena conferir o site, com muito conteúdo de sobra, para ser lido e revisto vagarosamente.

O psicanalista Célio Garcia, num seminário sobre Lacan e a Cultura, realizado no Centro de Cultura Belo Horizonte, com curadoria de Cristiane Barreto, dizia que o tempo lento é o tempo dos pobres, numa alusão ao geógrafo Milton Santos. Pedi que ele falasse mais um pouco sobre isso, pois eu estava numa descoberta pessoal, em termos de treimanento e criação corpórea, com o slow motion. Célio me disse que, na época da ditadura militar, ele e muitos outros exilados, trabalhavam na França selando cartas no serviço de Correios. Os ocidentais, dizia Célio, acostumados à escala industrial e hiperprodutiva, realizavam o trabalho com muita pressa, carta após carta. Já os africanos, dizia Célio Garcia, faziam aquilo com uma lentidão impressionante. Não havia motivo para correr. E nenhuma necessidade. Os gestos de Célio imitando os africanos eram fantásticos: passar a cola, passar a mão na carta, deixá-la num monte, para depois cruzar os braços, fazendo uma expressão de pausa que era, na verdade, de uma grande recusa. Somente depois disso, passavam para a outra carta.

Micro-políticas alternam velocidades e lentidões (Deleuze e Guattari) de um modo tático, de acordo com o momento, desobstruindo vias de desejo, evitando confrontos esmagadores, criando zonas de autonomia.

3 comentários:

  1. Essa do tempo ja havia percebido, quando onde trabalhava recebíamos pessoas de Sao Paulo. Gentes, era a maior pressa. Eles eram apressados e nervosos. Daí percebi que os mineiros tinham outra velocidade, mas lenta e ... os bainos eram ainda mais lentos. Acontece que Sao Paulo esta na velocidade da industrializacao ou o pos dela, os mineiros ainda no meio e os baianos estavam la no tempo da mae Africa. Os relógios batem mesmo diferente para diferentes culturas.

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  2. Solange,

    Tem essa coisa que você diz: dos tempos de cada região. Há uma piada muito interessante sobre isso, obviamente contada por mineiros. Um paulista teve o carro quebrado no meio do sertão de Minas, numa estrada de terra. Nervoso, com pressa, saiu andando e viu um mineiro agachado na sombra. "Você sabe a quanto tempo fica a próxima cidade daqui deste lugar?" O mineiro coçou a cabeça, mas o paulista não quis esperar e saiu andando a passos largos pela estrada. Depois de algum tempo o mineiro grita: "Ô, nessa passada aí fica a duas horas".

    Um abraço

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  3. Raaaara!! Assim a gente desopila o fígado, raaa!!

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Luiz Carlos