19.11.07

Ars Industrialis: uma ecologia do espírito

O site Ars Industrialis, em francês, com versão para o inglês, espanhol e alemão, convida-nos a pensar a submissão das tecnologias do espírito às forças do mercado, nas sociedades de controle (Deleuze). Esse é "um controle e manipulação dos desejos de indivíduos e grupos, de suas verdadeiras possibilidades existenciais, daquilo que somente existe como singularidades."

Ars Idustrialis tem por referência o pensamento do pensador francês Bernard Stiegler, diretor do departamento de desenvolvimento cultural do Centro Georges Pompidou, filósofo e doutor do Collège international de philosophie, professor da Université de Campiègue, e diretor de pesquisa da Connaissances, Organisations et Systèmes Techniques, e diretor adjunto do InstitutNational de l'Audiovisuel, puis directeur de l'IRCAM. No Brasil, temos a coletânia de textos de Bernard Sitegler (1) organizada e traduzida pela pesquisadora em performance art, Maria Beatriz de Medeiros, do Grupo Corpos Informáticos. Veja, também, a resenha de Priscila Arantes sobre o livro de Sitegler, na Revista eletrônica Polêmica Imagem número 21.

Stiegler discute a arte no viés das sociedades hiperindustriais, das singularidades, do controle e exaustão da libido dos indivíduos e grupos, e das estratégias de liberação.


Referências:


(1) MEDEIROS, Maria Beatriz de (orga. e trad.). Bernardo Stiegler - reflexões (não)contemporâneas. Chapecó: Argos, 2007
_____________________. Aisthesis - estética, educação e comunidades. Chapecó: Argos, 2005.
ARANTES, Priscila. Miséria afetiva, ou como os meios de comunicação liquidam o indivíduo. In: Revista Polêmica Imagem, número 21. Rio de Janeiro: UERJ, julho/setembro de 2007.

Site de Katie Duck: dança improvisacional




Katie Duck, performer de dança improvisacional e coréografa colocou no ar seu novo site. Katie esteve no Brasil em diversas ocasiões ministrando oficinas de improvisação e composição. No site há textos que abordam desde aspectos da história da dança contemporânea, na conexão Reino Unido/EUA, até informações sobre os procedimentos compositivos de Katie Duck. Chamo a atenção, particularmente, para um vídeo em que ela dança uma suite de Bach: sobriedade de linhas e precisão.

Alguns podem pensar que os procedimentos compositivos de dança pesquisados por Duck são utilizáveis somente em dança - grande engano. Até porque, numa perspectiva de obras híbridas e espaços entre, não se trata mais de pensar em linguagens isoladas. São poéticas do movimento-corpo-som-imagem.

Para as minhas pesquisas de treinamento em e como criação, extraio dos toques de Katie, dois procedimentos básicos, entre outros: a) aprender a compor através do sair, do deixar, do retirar-se do jogo cênico; b) a distinção entre escolha (choice) e acaso (chance). Não se trata de regras e improvisação - porque, aqui, estamos não no campo da estrutura, mas das forças em interação. São procedimentos técnicos que impulsionam os peformers da criação corpórea a um exercício sóbrio e livre ao mesmo tempo. A precisão é o intervalo de uma velocidade e não uma coisa dada e conferida por alguma autoridade (estética ou que seja).

A utilização de acasos (ecos de Cage) aparece, ainda, como ferramenta importante para a improvisação. No entanto, em busca da mudança, que é necessária, passamos a fazer escolhas sem a criação de um plano de imanência: um plano de escuta do espaço da atuação. Por outro lado, Duck mostra que, paradoxalmente, somente podemos ter acesso aos acasos através de escolhas. Mas, ainda, trata-se de perceber o que está emergindo no campo.

E no caso de compor com a saída, este é um exercício de grandes potencialidades. Os performers aprendem o desapego e, o que é vital, o retorno para o vazio.